Gilvan Nunes – Hilomorfismos
Anotações sobre gosto, demiurgo
Esta mostra de Gilvan Nunes reúne pinturas, desenhos, cerâmica e porcelana recentemente feitos pelo artista. Parte considerável das obras expostas pode ser associada pelo observador ao abstracionismo, já que são de difícil identificação figurativa ou mimética. O título dado pelo artista à exposição, Hilomorfismo, aponta para referências que estimulam o processo poético de sua produção.
Pinturas, manchas, abstração, cores sortidas, limite entre figuração e abstração
Porcelanas, elementos florais e decorativos, matéria, forma
Tal conceito remete-nos ao pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.), que considerava que todos os seres corpóreos eram compostos por matéria e forma. A poética de Gilvan Nunes e o hilomorfismo encaminham-nos a ideias contíguas como a do demiurgo, que trabalhava a matéria ou o caos para dar-lhes forma. No pensamento grego, particularmente no de Platão, o demiurgo seria um deus ou um princípio organizador do universo que não cria formas, apenas as modela, com base na contemplação do mundo das idéias.
A distinção entre matéria e forma observável na dinâmica poética da obra Gilvan Nunes, de outra maneira, parece ser bastante próxima. A partir desse ponto é que a consideramos importante para certos jogos que exercitam, alimentam e produzem a invenção poética.
Gosto é o critério ou cânone usado para julgar os objetos do sentimento. Foi somente a partir do século XVIII que o gosto foi reconhecido como uma faculdade autônoma, distinta tanto da faculdade teorética quanto filosófica e matemática, posto que possuía um campo e um pensamento técnico próprio, fato percebido por Leonardo da Vinci já no século XVI (“pittura é cosa mentale”) e, progressivamente, por Kant e Baumgarten no século XVIII.
Como a investigação material e formal podem ser meios poéticos
Fernando Cocchiarale, julho de 2022
